5 "efeitos colaterais" do autoconhecimento? [2018]

Olá, pessoal!

Autoconhecimento: aprender a ser

       Quando cismamos de fazer esse blog, a ideia por trás sempre foi falar da vida como ela é, de como nós somos no meio desse processo, sem idealizações ou fantasias. 

       O nosso compromisso, que virou um lema em todo e cada texto que trazemos toda semana é: lidar com a Realidade. Assim mesmo, com "R" maiúsculo. Jamais vamos dizer coisas bonitinhas e sedutoras, apenas para aquecer seu coração e alimentar sonhos vazios.

       Sabemos que o autoconhecimento só pode nascer daí. Se conhecer, para dizer de modo bem simples e direto,
é descobrir quem somos e como funcionamos.

       É claro, ao utilizar a expressão autoconhecimento, os leitores podem ao encontrar o nosso blog e associar o termo com tudo o que eles já leram a respeito do assunto. 

       Mas nós esperamos e fazemos o esforço de sempre surpreendê-los.

       Para aqueles que talvez tenham um pé atrás com o autoconhecimento, pois associam tal coisa com a autoajuda tradicional de muitos livros (embora a intenção original do termo seja anterior à literatura que lhe deu fama), fizemos um texto falando dos 10 benefícios do autoconhecimento. Como um produto, descrevemos ali as vantagens que ele pode ter para a vida de qualquer um.

       Mas o autoconhecimento é curioso e complicado também. Além de muitas vantagens, ele nos trás muitos questionamentos quanto mais mergulhamos no grande mistério de ser quem somos.

        "Efeitos coleterais" foi como resolvemos chamar esses complicadores. E abaixo listamos 5 deles que achamos serem os mais evidentes: 

1 - "Me sinto travado!"

       Imagina, você tentando se conhecer para melhorar, se empoderar e avançar nos seus projetos pessoais, e aí você descobre que não só as coisas não andam tão rápido, mas que tudo parece travado.  

       Sabe aquela sensação de que você está paralisado ou que a sua vontade em muitos momentos é simplesmente a de não fazer nada?

       Sim, se conhecer é muitas vezes notar que nosso corpo, nosso ser, às vezes simplesmente não quer ir, não quer fazer, nem tentar nada, ao menos não naquele momento. 
       
       O "modo preguiça" é ligado e tudo o que você deseja e ficar de canto, vendo tv, lendo ou mexendo no seu celular. Outros sentem vontade de fazer uma avaliação geral da vida e também ficam avessos a tomada de atitudes.

       Qual o problema com isso? 

       Quer saber mesmo? Nenhum.

      Não há nada errado com isso mesmo. Nós é que fomos ensinados - vozes exteriores! - de que temos de estar sempre em movimento, de estarmos crescendo ou nos mexendo. 

       Mas, e quando a nossa natureza não está pedindo isso? E quando a sua vontade é só a de ficar ali à toa, de boa?

       Você pode até se esforçar, vestir um personagem e fazer pose de pessoa ocupada e compromissada. Mais uma vez, porém, é o mundo falando por você. Não é você!

       Deu vontade de parar, de contemplar a vida? Acha melhor agir amanhã ou depois? Ou mesmo nem sabe quando quer começar a se mexer? 

       Relaxe. Isso também faz parte do mergulho maravilhoso dentro de você. Bem que pode ser esse o modo como o seu novo ser está usando para se reformular ou se construir. Não force a barra. 


2 - "Não tenho planos!" 

       Sabe aquela história de ter um propósito, um objetivo, metas na vida? 
       Há toda uma literatura aí fora voltada para a otimização do seu tempo e sobre planejamento, organização e priorização de metas. É tudo muito bonito e as reportagens vêm ilustradas até com pessoas aparentemente bem sucedidas.  Mas isso, leitores, é um modelo imposto.

       Olhe lá no fundo, bem lá dentro. Você sente se há algum  senso de urgência, de missão ou propósito especial precisando ser ativado? Percebe alguma coisa? Não? Tudo bem. Pode relaxar. 
  
       Parabéns, você acabou de se descobrir. 

       Não é medo, não é o mundo externo lhe segurando, não é a procrastinação (sabe, aqueles problemas que impedem você de sair da sua zona de conforto dos quais falamos nesse texto?) nenhum desses se aplica ao seu caso.

       Você não tem planos e sabe disso. Muitas pessoas lá fora também não tem, mas para parecerem promissoras e determinadas, assumem planos. Mas os dos outros, e se matam perseguindo objetivos absurdos...
       
       Quem você acha que está numa situação mais saudável, você ou elas?

       Simples. Você só é uma pessoa que precisa viver o momento, a vida como ela é por agora. Sem grandes mapas ou estratégias traçados para o ano que vem, sem grandes metas e propósitos.  Não há nada errado com você!

       Planeje, sim. Mas o seu dia, o seu próximo gesto ou o próximo passo. 
       Nada de grandes proezas para um futuro que você nem sabe se vai chegar. Ninguém sabe, afinal.

       Apenas viva. Preste atenção ao seu redor e tente aproveitar o máximo o que já está ao seu alcance. Não se martirize ficando ansioso demais. 

3 - "Não consigo relaxar!" 

       E aí você vive naquela pilha, correndo para lá e para cá, tentando resolver isso e aquilo, pensando naquilo ali e naquela outra coisa acolá. Vem a sensação de estar sob pressão e reflete: "preciso relaxar, para que tanta ansiedade?"

       E aí você tenta parar, desacelerar e não consegue. Como assim? 
       Você está se autoconhecendo e não aprendeu ainda nem isso? Não pode ser. Você precisa ser menos ansiosa, mais zen, mais relax....Você tem que! 

       Mas quem disse que existe um modelo comportamental padrão do que seja uma pessoa autoconsciente?

       Quem estabeleceu que todo mundo que se conhece tem de viver tranquilo, calmo, ouvindo música new age, com a casa perfumada com velas e incenso? 

       Esse é um modelo vendido pela literatura de autojuda. Isso não é a realidade para a maioria das pessoas, mesmo aquelas que estão na busca do autoconhecimento.

       Lembre-se, autoconhecimento é aprender a viver conforme a realidade. E qual é a sua realidade?

       Essa aí é a sua realidade: a de alguém que não relaxa, ansioso por não relaxar! 

       Aceite isso. Solte-se dessa mania de controlar como você funciona. Deixe as coisas serem. Deixe-se ser como você é.

       A ansiedade não diminui quando você fica ansioso por ser ansioso. Você fica mais ansioso ainda! 

Autoconhecimento: relaxar quando não se relaxa

       Portanto, se você é acelerado, relaxe em ser acelerado. Tudo bem tentar alguns exercícios, técnicas. Mas não enlouqueça se não conseguir parar, se não consegue virar um ideal de quietude e paz daquelas parábolas orientais que você já dever ter ouvido.

       Relaxe se não está conseguindo desacelerar. E você começará a relaxar de um jeito todo seu.

       Autoconhecimento é em grande parte autoaceitação. Lembra do que falamos nesse outro texto, que nem tudo será possível (ou não tão facilmente) mudar em você? 

       O jeito acelerado pode ser parte dessas coisas. Portanto, relaxe em não relaxar. E quando você menos esperar vai até perceber que anda mais calmo e menos ansioso.

4 - "Estou cada vez mais esquisito"

     Depois de tanta reflexão, passeios de pés descalços na praia ou no gramado do parque ao amanhecer, pensando em tudo o que você deixou de ser e fazer para agradar ao mundo, um dia você se dá conta de que sumiram: os amigos, certas visitas, os convites para eventos no final de semana.

       Mas que porcaria esse tal de autoconhecimento, não? Você pode pensar.
      Não era para você se encontrar, melhorar como pessoa e assim lidar melhor com os outros?
       Você que já era estranho, virou um poço de esquisitice. Antes quase não se encaixava, mas agora se tornou um ermitão de vez?

       Oras, você esperava o quê? 

       Alguém que sai em busca de quem de fato é, do que realmente gosta, dos caminhos que quer seguir genuinamente, não iria se tornar alguém muito popular ou descolado. É até meio óbvio. 

      Razões? À seguir...

       Os seres humanos querem simplesmente se enquadrar, serem normais, parecerem com todo mundo. Por isso seguimos tendências de comportamento, vestuário, linguagem...

       

       O autoconhecimento vai fazer você se destacar e destoar em muitos momentos do ambiente, e isso gerará aqui e acolá algum descompasso, um desacordo entre o seu jeito e o jeito de todo mundo.(Como também haverá momentos que você se sentirá parte de eventos e situações que você nem imaginava antes. Tem isso também!).

       Quando estiver se sentindo um peixe fora d'água, não se desesepere. Simplesmente pode ser você, pela primeira vez, sentindo por si mesmo o mundo e a vida, e não engolindo e concordando com as coisas.

       Entenda: ser esquisito, estranho, faz parte do processo de individualização. Você pode estar sendo apresentado a você mesmo. Portanto, não seja mal educado, e cumprimente-se!

5 - "O que eu quero?"

       Essa talvez seja a realidade mais estranha de se encarar.

       Tanto mais autoconsciente você se torna, mais irá aparecendo as coisas das quais você não gosta, não quer, não precisa. Com dificuldade cada vez menor, você vai tatear e buscar o que lhe faz feliz. Tudo muito bom, tudo muito bem...

       Mas de uma hora para a outra, você nota:

"Ei, eu não queria ser aquilo que queriam que eu fosse...mas também não quero ser isso que sou agora! E agora?"

       Danou-se! 

       Pois é...

       Você descobre que o que você pensava que queria era apenas uma reação, uma fuga daquilo que o ambiente vinha lhe impondo.

       Numa imagem, é como se tivessem feito você usar terno e gravata e ter uma aparência impecável e você passasse a sonhar em ser artesão que trabalhasse com argila, descalço, de bermuda e camiseta. Um dia chutasse o balde, abandonasse tudo e se entregasse à sua "paixão". E percebesse pouco depois que aquilo nunca foi para você.

       Esse é um fenômeno muito comum, e que pode levar a muitos erros de "escolhas definitivas" aí fora!

       Você apenas estava respondendo a um mundo que não lhe era ideal. A reação era apenas uma defesa, uma espécie de compensação, mas não era a sua real natureza. 

       Há muito a percorrer e a descobrir sobre quem você de fato é. E aqui voltamos aos insights 2 e 3: relaxe em não ter planos definidos.

Autoconhecimento: sentir para ser

Autoconhecimento: viver e sentir, sentir e viver

       Tudo depende antes de mais nada do sentir. 

       Sinta você, sinta como você se encaixa ou não ao meio. Sinta as coisas e as situações. Sinta você no meio disso tudo. Sinta as suas reações naturais. Só depois teste algumas atitudes.

       Vá devagar, sem pressa. Não precisa ser um mestre do autocontrole. Seja, apenas. E Sinta. E deixe fluir os sentimentos e pensamentos que vierem. 

       Não tente segurar pensamentos e sensações, nem assumir modelos pré-estabelecidos. 

       Ser você vai lhe levar por caminhos diferentes. Mas diferentes porque parecerão mais com seu eu verdadeiro, não por serem contrários aos caminhos externos simplesmente

          Sente vontade de ir ao cinema sozinho? Vá. Isso não significa que você quer viver sozinho doravante, é apenas um impulso da sua natureza que talvez queira respirar e se reconfigurar.

       Surgiu aquele impulso de renovar o guarda-roupa? Saia e realize esse desejo. Não, isso não tem nada a ver com ser consumista. Quem sabe seja só a forma que o seu senso de valor pessoal encontrou para se expressar? Relaxe. 

       Tem vontade de fazer sexo com um amigo/a, sem compromisso? Oras, chegue nele/a e fale do seu desejo. E caso ela/e não saia correndo mas aceite a proposta, sejam felizes, ainda que por algumas horas.

       Deu vontade de se isolar, de se enturmar, de sair, de não sair, seja qual for a vontade - claro, desde que não prejudique e nem machuque nem a você e nem aos outros - se dê essa chance!

       Não há modelos. Não há propósitos. Não há metas a atingir. Ou ao menos não tem que haver. 
     
       Viva somente. Sinta somente. Pelo menos por enquanto.

       "Ah, mas eu me sinto tão vagabundo/a e a toa às vezes..."

       Sentiu isso? Sentiu mesmo? Oras, que bom! Talvez você esteja precisando mesmo se entregar ao ócio, mesmo que isso não leve você a criatividade alguma. Fique aí. Ponha o pé pra cima. O mundo não vai desabar. 

       E se você perder algo, deixar de ganhar algo, relaxe. A vida lhe veio dessa forma. Você assumiu isso. Nada de culpa. Era necessário. Depois, e de preferência sem culpa ou vergonha, você dará um jeito.

       Que tal escrever os seus sentimentos diários? 

       "Hoje levantei e não tive vontade de nada."

       "Hoje eu ia sair para cortar e tingir o cabelo, mas desisti e fui visitar um amigo/parente". 

       "Tentei começar uma atividade nova, mas logo perdi o entusiamo".

       Olha aí você se conhecendo, se reconhecendo e se desconhecendo. Tudo isso faz parte do processo. Não há nada errado.

       Errados são os modelos que nos impuseram. 
       Errados são os papéis que mesmo nós cismamos que temos de representar, até quando nos distanciamos da "vida normal". 
       Errado é cismar que sempre estamos errados.

       Pense um pouco a respeito disso!

Até mais!